O que é
educação a distância (*)
José Manuel Moran
Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância
jmmoran@usp.br
Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância
jmmoran@usp.br
Educação a distância é o processo
de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos
estão separados espacial e/ou temporalmente.
É ensino/aprendizagem onde
professores e alunos não estão normalmente juntos, fisicamente, mas podem estar
conectados, interligados por tecnologias, principalmente as telemáticas, como a
Internet. Mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o
vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes.
Na expressão "ensino a
distância" a ênfase é dada ao papel do professor (como alguém que ensina a
distância). Preferimos a palavra "educação" que é mais abrangente,
embora nenhuma das expressões seja perfeitamente adequada.
Hoje temos a educação presencial,
semi-presencial (parte presencial/parte virtual ou a distância) e educação a
distância (ou virtual). A presencial é a dos cursos regulares, em qualquer
nível, onde professores e alunos se encontram sempre num local físico, chamado
sala de aula. É o ensino convencional. A semi-presencial acontece em parte na
sala de aula e outra parte a distância, através de tecnologias. A educação a
distância pode ter ou não momentos presenciais, mas acontece fundamentalmente
com professores e alunos separados fisicamente no espaço e ou no tempo, mas
podendo estar juntos através de tecnologias de comunicação.
Outro conceito importante é o de
educação contínua ou continuada, que se dá no processo de formação constante,
de aprender sempre, de aprender em serviço, juntando teoria e prática,
refletindo sobre a própria experiência, ampliando-a com novas informações e
relações.
A educação a distância pode ser
feita nos mesmos níveis que o ensino regular. No ensino fundamental, médio,
superior e na pós-graduação. É mais adequado para a educação de adultos,
principalmente para aqueles que já têm experiência consolidada de aprendizagem
individual e de pesquisa, como acontece no ensino de pós-graduação e também no
de graduação.
Há modelos exclusivos de
instituições de educação a distância, que só oferecem programas nessa
modalidade, como a Open University da Inglaterra ou a Universidade Nacional a
Distância da Espanha. A maior parte das instituições que oferecem cursos a
distância também o fazem no ensino presencial. Esse é o modelo atual
predominante no Brasil.
As tecnologias interativas,
sobretudo, vêm evidenciando, na educação a distância, o que deveria ser o cerne
de qualquer processo de educação: a interação e a interlocução entre todos os
que estão envolvidos nesse processo.
Na medida em que avançam as
tecnologias de comunicação virtual (que conectam pessoas que estão distantes
fisicamente como a Internet, telecomunicações, videoconferência, redes de alta
velocidade) o conceito de presencialidade também se altera. Poderemos ter
professores externos compartilhando determinadas aulas, um professor de fora
"entrando" com sua imagem e voz, na aula de outro professor...
Haverá, assim, um intercâmbio maior de saberes, possibilitando que cada
professor colabore, com seus conhecimentos específicos, no processo de
construção do conhecimento, muitas vezes a distância.
O conceito de curso, de aula
também muda. Hoje, ainda entendemos por aula um espaço e um tempo determinados.
Mas, esse tempo e esse espaço, cada vez mais, serão flexíveis. O professor
continuará "dando aula", e enriquecerá esse processo com as
possibilidades que as tecnologias interativas proporcionam: para receber e
responder mensagens dos alunos, criar listas de discussão e alimentar
continuamente os debates e pesquisas com textos, páginas da Internet, até mesmo
fora do horário específico da aula. Há uma possibilidade cada vez mais
acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes.
Assim, tanto professores quanto alunos estarão motivados, entendendo
"aula" como pesquisa e intercâmbio. Nesse processo, o papel do
professor vem sendo redimensionado e cada vez mais ele se torna um supervisor,
um animador, um incentivador dos alunos na instigante aventura do conhecimento.
As crianças, pela especificidade
de suas necessidades de desenvolvimento e socialização, não podem prescindir do
contato físico, da interação. Mas nos cursos médios e superiores, o virtual,
provavelmente, superará o presencial. Haverá, então, uma grande reorganização
das escolas. Edifícios menores. Menos salas de aula e mais salas ambiente,
salas de pesquisa, de encontro, interconectadas. A casa e o escritório serão,
também, lugares importantes de aprendizagem.
Poderemos também oferecer cursos
predominantemente presenciais e outros predominantemente virtuais. Isso
dependerá da área de conhecimento, das necessidades concretas do currículo ou
para aproveitar melhor especialistas de outras instituições, que seria difícil
contratar.
Estamos numa fase de transição na
educação a distância. Muitas organizações estão se limitando a transpor para o
virtual adaptações do ensino presencial (aula multiplicada ou disponibilizada).
Há um predomínio de interação virtual fria (formulários, rotinas, provas,
e-mail) e alguma interação on-line (pessoas conectadas ao mesmo tempo, em
lugares diferentes). Apesar disso, já é perceptível que começamos a passar dos
modelos predominantemente individuais para os grupais na educação a distância.
Das mídias unidirecionais, como o jornal, a televisão e o rádio, caminhamos
para mídias mais interativas e mesmo os meios de comunicação tradicionais
buscam novas formas de interação. Da comunicação off-line estamos evoluindo
para um mix de comunicação off e on-line (em tempo real).
Educação a distância não é um
"fast-food" em que o aluno se serve de algo pronto. É uma prática que
permite um equilíbrio entre as necessidades e habilidades individuais e as do
grupo - de forma presencial e virtual. Nessa perspectiva, é possível avançar
rapidamente, trocar experiências, esclarecer dúvidas e inferir resultados. De
agora em diante, as práticas educativas, cada vez mais, vão combinar cursos
presenciais com virtuais, uma parte dos cursos presenciais será feita virtualmente,
uma parte dos cursos a distância será feita de forma presencial ou
virtual-presencial, ou seja, vendo-nos e ouvindo-nos, intercalando períodos de
pesquisa individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns
cursos poderemos fazê-los sozinhos, com a orientação virtual de um tutor, e em
outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias.
A Internet está caminhando para
ser audiovisual, para transmissão em tempo real de som e imagem (tecnologias streaming,
que permitem ver o professor numa tela, acompanhar o resumo do que fala e fazer
perguntas ou comentários). Cada vez será mais fácil fazer integrações mais
profundas entre TV e WEB (a parte da Internet que nos permite navegar, fazer
pesquisas...). Enquanto assiste a determinado programa, o telespectador começa
a poder acessar simultaneamente às informações que achar interessantes sobre o
programa, acessando o site da programadora na Internet ou outros bancos
de dados.
As possibilidades educacionais
que se abrem são fantásticas. Com o alargamento da banda de transmissão, como
acontece na TV a cabo, torna-se mais fácil poder ver-nos e ouvir-nos a
distância. Muitos cursos poderão ser realizados a distância com som e imagem,
principalmente cursos de atualização, de extensão. As possibilidades de
interação serão diretamente proporcionais ao número de pessoas envolvidas.
Teremos aulas a distância com
possibilidade de interação on-line (ao vivo) e aulas presenciais com interação
a distância.
Algumas organizações e cursos
oferecerão tecnologias avançadas dentro de uma visão conservadora (só visando o
lucro, multiplicando o número de alunos com poucos professores). Outras
oferecerão cursos de qualidade, integrando tecnologias e propostas pedagógicas
inovadoras, com foco na aprendizagem e com um mix de uso de tecnologias:
ora com momentos presenciais; ora de ensino on-line (pessoas conectadas ao
mesmo tempo, em lugares diferentes); adaptação ao ritmo pessoal; interação
grupal; diferentes formas de avaliação, que poderá também ser mais
personalizada e a partir de níveis diferenciados de visão pedagógica.
O processo de mudança na educação
a distância não é uniforme nem fácil. Iremos mudando aos poucos, em todos os
níveis e modalidades educacionais. Há uma grande desigualdade econômica, de
acesso, de maturidade, de motivação das pessoas. Alguns estão preparados para a
mudança, outros muitos não. É difícil mudar padrões adquiridos (gerenciais,
atitudinais) das organizações, governos, dos profissionais e da sociedade. E a
maioria não tem acesso a esses recursos tecnológicos, que podem democratizar o
acesso à informação. Por isso, é da maior relevância possibilitar a todos o
acesso às tecnologias, à informação significativa e à mediação de professores
efetivamente preparados para a sua utilização inovadora.
Bibliografia:
LANDIM, Claudia Maria Ferreira. Educação
a distância: algumas considerações. Rio de Janeiro, s/n, 1997.
LUCENA, Marisa. Um modelo de
escola aberta na Internet: kidlink no Brasil. Rio de Janeiro: Brasport,
1997.
NISKIER, Arnaldo. Educação a
distância: a tecnologia da esperança; políticas e estratégias a implantação de
um sistema nacional de educação aberta e a distância. São Paulo: Loyola,
1999.
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